quinta-feira, 1 de outubro de 2009

clipping - jornal do commercio - 20/09/2009

Entre as margens e o Rio 

Balsa, filme de Marcelo Pedroso, é exibido pela primeira vez amanhã na Semana dos Relizadores, no Rio de Janeiro

Fellipe Fernandes

ffernandes@jc.com.br


Uma senhora está sentada num banco. Ela procura algo numa bolsa. Olha para um lado, para o outro, vê o mar e e continua a remexer na bolsa que descansa sobre suas pernas. Ela está numa balsa em Japaratinga, litoral norte de Alagoas. Ouvimos apenas o barulho do mar a bater no casco do veículo. Qualquer espectador que assiste a Balsa, filme de Marcelo Pedroso que tem estreia nacional amanhã na Semana dos Realizadores no Rio de Janeiro, pode sentir-se um ladrão. São roubados minutos tão particulares quanto corriqueiros da vida de personagens que nunca saberemos o nome. Como a senhora do início do parágrafo, que por fim tira um papel de dentro da bolsa, completamente indiferente à lente cinematográfica.

Ganhador do prêmio Ary Severo/ Firmo Neto para roteiro de curta-metragem, o filme de Pedroso (uma produção da Símio Filmes com a Cinemascópio Produções) reúne cenas que se passam entre uma margem e outra de um rio em 48 minutos de imagens. “A ideia partiu de uma visita que fiz lá na balsa, quando surgiu a vontade de conceber um dispositivo fílmico que pudesse emular aquele movimento, aquela rotina”, explica o cineasta, que depois completa: “Não é um filme sobre a balsa. Existe, na verdade, uma tentativa de fusão entre a câmera e a balsa”. Em momento algum da obra vê-se o veículo a partir de uma visão externa, a câmera está sempre sobre a estrutura da balsa. Longe da linguagem tradicional dos documentários, o filme é composto por vários planos geralmente abertos e fixos que flagram momentos dentro do transporte durante a travessia. “Há uma liberdade muito grande para procurar novas linguagens. Não tem a construção de personagens. São encontros determinados pelas margens do rio. É um território de liberdade enorme para se lançar diferentes formas estéticas”, explica Pedroso.

Co-diretor de KFZ – 1348, ao lado de Gabriel Mascaro, que exibe novo filme hoje pela primeira vez no Brasil também na Semana dos Realizadores (ver matéria abaixo), o cineasta prefere utilizar o termo dispositivo fílmico que documentário para designar sua obra. “Nos meus filmes tenho procurado buscar esse conceito de dispositivo que são algumas regras que buscam dar sentido à apreensão das imagens e a partir daí ficamos livre para criar. O que se pode ver em Balsa é o postulado da transitoriedade para se relacionar as pessoas. Sem teses bem acabadas, mas recortes de impressões em breves intervalos. Tudo ali é breve mesmo. O que faço é utilizar recursos narrativos para conceber a balsa como um organismo”, comenta.

Para alcançar este feito, o diretor contou com o auxílio de Thelmo Cristovam, técnico de som. O áudio exerce papel fundamental no média-metragem. Tenta-se entender a balsa como um organismo também pelo som, seja da água que bate, seja do motor que ressoa, seja da música que toca no carro. Thelmo utilizou o aparelho de captação de áudio agregado a um estetoscópio, que é capaz de captar a vibração da matéria. 

FAZER UM MÉDIA

Pouco utilizado por realizadores, o formato média-metragem (que abrange produções superiores a 30 minutos e inferiores a 60 – números que podem variar de acordo com o festival) é aceito em poucos festivais de cinema do País. Por esse e outros motivos, Pedroso resistiu em aceitar a duração final. “Passei vários meses com um curta na mão, mas teve um dia que pirei e resolvi repensar a obra. Aí foi crescendo, crescendo e virou um média”, conta o diretor.

No final, o cineasta acredita que o formato trouxe benefícios ao projeto, pois o forçou a procurar alternativas de distribuição que vão além dos festivais. “A ideia é chegar ao publico que geralmente não veria o filme. Acontece que a gente geralmente termina a obra e fica muito viciado à ideia dos festivais. Não é virar as costas, mas criar ações complementares. Por isso nos identificamos bastante com a proposta da Semana dos Realizadores”, explica. Balsa já foi exibido para os alunos do curso de cinema da Universidade Federal de Pernambuco e conta com um blog (docbalsa.blogspot.com), para facilitar a aproximação com o público. No dia 10 de outubro, o média tem sua estreia oficial no Recife, numa sessão especial do Cineclube Dissenso, que acontece no Cinema da Fundação.

1 comentário:

  1. Hum , Gostei bastante do filme muito interessante Um pouco dificil de entender mais que com o percorrer da conversa Com o marcelo deu pra entender bastante . Confesso que no começo nao entendi Muito pois o Filme nao Contém uma legenda , mais so os sons. Gostei bastante.

    Maysa 07/10/2009 Colegio Marechal eurico gaspar dutra.

    ResponderEliminar